quinta-feira, 28 de abril de 2011

Regina /Renato

Pela manhã de verão
levei  minhas pernas ao sol
lambidas de calor
fui ao parque passear
lage longe nude
passear e visitar meus mortos
árvores,sol,vento e o infinito que nos une
nada mais!

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Renato ---Regina

tudo era perfeito àquela luz de calmos abajures: a minha mulher, a roupa da minha mulher, o rosto da minha mulher, o jeito como ela se sentava na poltrona pequena, e o silêncio. ah, e também os óculos da minha mulher. o livro que ela lia era eu. virou a página sem número nem distância daqui, a última, sorriu satisfeita. tirou os óculos e viu todas as palavras deslizarem, por mágica, em grupo, de volta à caixinha do título. e o título se revelou: 

ela, o mundo.

domingo, 2 de janeiro de 2011

g-n

Você começou a nascer no dia que me dei um presente. E agora desanda desanda e nada estanca. Escrevo na parede de pedra. Texto.Teso.Tudo. e logo saio. O alívio ocupa o que me aflige. Chego em casa às quatro. No armário café , pão e queijo. O relógio de ponteiro parado às doze. Mudo como a sala. escrevo escrevo escrevo e nada pára. Meu Deus não pára. Na mesa o caderno guarda todas as palavras. à lápis , caneta São muitas e estão soltas. Folhas agora marcadas por palavras palavras palavras Guardei pra você por todos esses anos. A boca sem voz. Aqui ao lado da sua cama procuro seu lábio. Desenho com o dedo o sorriso que me lembro. E me levo ao jardim onde brincava. E rodava rodava rodava quando a vida nada me custava. Só soava e se anunciava. Um mar de palavras palavras palavras. 

n-g

III
sigo desprovido de grito
para casa de pedra em petrópolis
sob som que soe leve led zeppelin
marquei uma visita nessa tarde de sol
casaco chapéu e um chá
bati a porta e quem me abriu a casa
de nada me lembrava o passado
visitei sua imagem nua e agora a gente ali
se passaram tantos anos e esse silêncio por
todos os lados

 

IV
tento relembrar por fim
se o paraíso era um lugar só eu
ou
se o paraíso era um lugar sem mim
 
te esperei dias parada sentada
caderno aberto
dias de vigília
sem sono nem proventos
te esperei a beira do rio
sem hino
maculei sua lembrança lívida
planejei seus dias
plantei seus sabores
acordei para mais um dia 

n-g

e agora eu andava de bicicleta pelo aterro fechado. tinha havido uma dessas corridas patrocinadas, com tendas, carros de som e bonés. numa das curvas mais arborizadas, vi de longe centenas de copos dágua, usados, espalhados pelo asfalto. pareciam frutos falsos que as árvores tinham deixado cair. era um pedaço plastificado de outono dentro desse verão todo. agora a mágica: pelos fones de ouvido, vinha fake plastic trees (do radiohead).

--

De tudo que vi em um dia
brotava em pedaladas
tendas
sons e rostos
e agora aqui e ali
só jaziam restos de
uma festa anunciada
sacos de passado inglório
denúncia de dias 
indóceis
buscava o sossego
onde tudo já era seco
e o desassossego brotava
fake plstic trees

g-n

O RENASCER
QUERIA NESSE RASGO DE TEMPO TE MANDAR NOTÍCIAS AQUI DE ALÉM MAR.
DE TUDO QUE ACONTECEU.
DO TEMPO QUE TEIMA EM SEGUIR IMPIEDODO SEGUNDO APÓS SEGUNDO DEIXANDO MINHAS LEMBRANÇAS PÁLIDAS.
TENHO ANOITECIDO DIARIAMENTE E O QUE ME RECORDO JÁ ME PARECE UM FUTURO PRÓXIMO. UM PRETÉRITO.
PREPAREI UMA CARTA DETALHADA.
QUERIA TE CONTAR O DIA-A-DIA E O QUE SE OCUPOU NO VAZIO QUE A SUA AUSÊNCIA CAUSOU , QUAL UM NAVIO APÓS NAUFRAGAR.
PRECISEI CONSTRUIR UM CASTELO DE PEDRA E SOLTAR VÁRIAS AMARRAS NA ESPERANÇA DE PODER RESPIRAR AGORA LIVRE.
PRECISEI SOFRER CADA DOR QUE CADA LÁGRIMA ME COBRAVA.
PRECISEI DE TUDO ISSO PARA  RENASCER MUDA,NUA,SUJA MAS APENAS DO QUE PERTENCE A MIM
MESMA. 
e insisto: é empurrando ao pretérito o pé que o passo leva o corpo ao futuro próximo. 
  

ren-reg

o abajur dormiu aceso e acordou de ressaca.
agora ela virava de lado e 
dava de cara com a noite anterior
e estava tudo
ali
pálido , ávido
sem cor
quisera esticar o dedo firme
assim e encostar nessa luz que
perturba
para acabar de vez com essa
vigília
aflitiva